Vivemos um tempo marcado por sombras que se adensam, um tempo em que a violência simbólica e real reaparece com inquietante naturalidade e em que discursos que diminuem o valor da vida humana ganham palco sem pudor. Nesse cenário inquieto, a leitura deixa de ser mero hábito cultural e torna-se um ato de lucidez. Ao abrir um livro acende-se uma luz que resiste ao escuro, uma luz que recupera a memória das lutas passadas, alerta para as ameaças do presente e lembra que a dignidade não é negociável. Quando o mundo parece apertar, os livros devolvem espaço para respirar e para pensar, espaço onde os direitos humanos recuperam o seu significado mais profundo.
A literatura devolve rosto a quem foi apagado, devolve voz a quem foi silenciado, devolve complexidade às histórias que o quotidiano tende a simplificar. Ler um testemunho que expõe uma injustiça, mergulhar numa ficção que ilumina vidas invisíveis ou seguir um ensaio que desmonta violências normalizadas é como acender uma lâmpada interior que nos obriga a ver, e que por isso impede o esquecimento. A leitura age devagar, mas age sempre, fissura o medo e devolve espaço à empatia num tempo que tantas vezes convida ao afastamento.
Celebrar o Dia Internacional dos Direitos Humanos através da leitura é reconhecer que cada livro se transforma num gesto de resistência. Resistência contra o apagamento, contra a indiferença, contra a facilidade perigosa de aceitar a injustiça como inevitável. Quando o horizonte parece estreitar-se, as histórias alargam-no de novo. Mostram que a dignidade humana é frágil, mas não é fraca, e que cada leitor carrega consigo a possibilidade de reacender essa força. A leitura não salva o mundo sozinha, mas impede que o mundo se perca completamente de si. É nesse intervalo entre a sombra e a esperança que os livros se tornam indispensáveis.